março 01, 2016

Estranha Arte




Nasci e cresci vigiada pelo vento.
Passei anos atrás de uma escura armação.
Ninguém sabia o que se passava na minha mente,
até que coloquei as lentes
e vi que o mundo era um inferno sem salvação.

Conheci o sol, fiz amizade com a chuva
Enfrentei a dona aranha, tentando escapar.
Aventurei do lado de fora da janela e fracassei.
Voltei para o canto protegido da sala, sem questionar.

Percebi que não era uma onça em extinção
e sim algum bicho peçonhento,
indefeso,perdido e nojento,
neste mundo cheio de contradição.

Eu aprendi a conversar.
Editei, por mil vezes, meu amor.
Eu fui amada e traída.
Eu decidi, desisti, investi e perdi
Sei muito bem o que é dor.

Eu vi que não era uma pessoa normal
porque ser normal é da essência do ser.
Vi amanhecer sem ter dormido
e dormi para não amanhecer.

Eu busquei ver o mar para que ele se desculpasse
e quando o encontrei,pedi perdão.
Eu perdi pessoas especiais
e quase morri por não estar na direção.

Percebi que o coração bate mesmo que eu não queira
Que o vampiro se casa com uma gravata vermelha
E quando pensei ter visto um caranguejo
estava encarando um tubarão.

Eu fiz poesia com gosto de lágrimas
e textos engraçados tomando uma cerveja
E com toda certeza de quem senta num bar,
eu escrevi, com sabedoria, o quanto é difícil amar.

Meu melhor tropeço são os meninos
que crescem com a doce calma do furacão
São meu melhor texto, meu grande acerto,
a melhor poesia e minha maior realização.

E depois de ver um pouco do que fiz direito,
e que a regra, na minha vida, é exceção,
busquei traduzir, nessa estranha arte,
o que ainda sente meu pobre e sofrido coração.
Irene Tiraboschi
(direitos reservados)