agosto 10, 2011

Quem Nunca?!

             Um dia, a gente cresce, começa a viver e aprender com as experiências.
            A gente quebra um dedinho jogando basquete, quebra os óculos jogando queima,quebra a cara com as amizades (sentido figurado) quebra a cara numa briga (literalmente).
             Eu já quebrei meus óculos jogando queima, apanhei numa festa por ciúmes, vi relacionamentos acabarem por concorrência...
            Eu tive dois filhos, parto normal, iniciei 6 ou 7 cursos diferentes até descobrir que queria ser advogada, hoje, bacharel, eu estou negociando com a vida e com a FGV, o direito de fazer isso.
            Eu me envolvi num acidente de trânsito e vi o clipe da minha vida passar rapidinho diante dos meus olhos e a altura que poderíamos ter caído.
            Eu vejo as pessoas mentirem para si mesmas, perdendo tempo na vida
            Eu vejo as pessoas se agredindo e se afastando umas das outras porque não sabem aceitar opinião, não sabem aceitar diferenças e julgam como se viessem ao mundo com um manual.
            Quem nunca conheceu um homem safado e se entregou a ele perdidamente?
            Quem nunca defendeu esse mesmo homem, mesmos sabendo que ele não merecia?
            Quem nunca arrumou um novo namorado para esquecer aquela antiga paixão?     Quem nunca traiu o novo namorado com a antiga paixão e rezou em 13 idiomas diferentes quando houve suspeita de gravidez?
            Quem nunca ficou com um feio ou feia, gostou da pessoa, poderia ter feito planos com ela, mas a ignorou quando os amigos criticaram?
            Quem nunca foi “Maria vai com as outras”?
            Quem nunca colou numa prova, mesmo que superficialmente, mesmo que tenha colaborado passando resposta para o colega, mesmo que tenha levado um zero?
            Quem nunca bisbilhotou a vida de alguém? Na década de 80 eram os diários e finais de caderno, onde sempre havia alguma declaração,nos anos 90, vieram as agendas e capas de fichário e hoje, investigamos os Facebooks, vendo as fotos, os fatos, os status.
            Quem nunca escondeu as contas da mãe?
            Quem nunca levou a namorada para casa quando os pais saíram? Que menina nunca foi ousada de fazer o mesmo como se fosse menino?
            Quem nunca foi numa rave desavisado, com salto agulha ou sem agasalho?
            Quem nunca provou algo que desconhecia só pra ver como era?
            Quem nunca colocou a mesma música para ouvir e chorou por alguém?
            Quem não tem uma família confusa, um primo bonito pelo qual já foi apaixonada, um professor por quem já deu algum suspiro, uma amiga pela qual, se fosse homem, seria apaixonada?
            Quem nunca sofreu preconceito?
            Quem nunca teve preconceito?
            Quem nunca cometeu pecado sem conhecer?
            Eu acho que meu pai nunca gostou de mim e não escondo isso de ninguém, embora seja julgada por isso. Ele não foi à minha colação, nem na festiva e nem na oficial e por mais que tenha dado desculpas, eu digo que não foi por não ter feito a menor questão.
            Falar da minha família é algo delicado, mas, para os que convivem comigo, é compreensível a presença de algumas restrições.
            Quem nunca me julgou desajustada?
            Quem nunca fez careta pelas minhas costas?
            Quem garante que alguns me adicionaram por mera curiosidade?
            Quem garante que o que parece ser indiferente comigo ou um inimigo de ocasião, não possa ter vontade de tomar uma cerveja gelada, colocar a prosa em dia e não o faz por amor, princípios, respeito ou medo da rejeição?
            Eu já passei muita coisa na vida, já vi muito e sou ciente de que tenho muito a aprender, mas o que mais me incomoda é que não sou ouvida, ninguém quer ouvir o que tenho a dizer.
            Ninguém vê que o zelo demasiado é amor e cuidado
            Ninguém quer saber o que sinto, o que passo, só pensam em criticar meus atos e dizer o que devo fazer.
            Mas que feito esses seres tem?
            Que coisa boa fizeram para si mesmos?
            Triste saber, com toda experiência que tenho, que as pessoas não me dão direito de me preocupar com alguém, de ter opinião própria, de me manifestar!


Irene Tiraboschi
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