setembro 03, 2008

A Senhora

Estava sentada no ponto de ônibus, aquela confusão de pessoas correndo, atrasadas ás vezes, ou sem pressa alguma, como o velhinho que ia apenas passear.O cara, que vende bilhetes, gritava o nome do destino de cada carro que parava e, depois, para onde ia cada carro que estava saindo.
Quanta confusão!
Mas o meu chegou e dali eu parti.
Uma senhora cantava.
Com tanto barulho,vozes e buzinas, ela cantava uma velha canção da jovem guarda,acho que era do rei,não sei, mas sua voz fraca e serena ecoava o barulho da multidão,bastava prestar atenção.
A música era cantada com emoção, um amor perdido no passado ou a saudade do marido que poderia estar em casa ou distante dali, separado pelo tempo, pelo lamento.
Ela cantava como se fosse trilha sonora do que estava a pensar.Na minha mente lembranças boas, sorrisos,risada,abraços,brincadeiras e saudade.
Como não deixar uma lágrima cair, era só eu e a canção triste daquela senhora, eu não ouvia mais nada, nem via o ônibus lotado, pessoas sem lugar para sentar,nada mais havia ali, apenas a saudade de um momento não tão distante,apenas a canção da senhora.Apenas meu coração, apenas meu pensamento em você.
Voltei a realidade quando ela me tocou,e segurando minhas mãos, me chamou:
“ _ Por que chora querida?”
Eu olhei seus olhos tão brilhantes, mas escondidos pelos anos que se passaram, as mãos com marca visível de que conhecia o amor e as duas alianças mostravam que o pra sempre, como disse o poeta, um dia sempre acaba.
Eu a olhei com vontade de rever sua vida,como se tivesse um filme ou mesmo um simples álbum de retrato, olhei desejando ser ela, daqui uns anos, e ter aquele mesmo rosto de quem havia se realizado, ter o mesmo sorriso de quem foi feliz a vida toda, e respondi:
"_Acho que choro por mim! Ouvindo a senhora cantar, pensando em tudo que me aconteceu.Não sei explicar!"
Ela sorriu e disse que era bom saber que alguém a ouviu e me aconselhou a fazer o mesmo:
"_ cantar, cantar e cantar!"
Ao descer do ponto, dois ou três antes do meu, ela olhou para trás, com seu vestido florido, e acenou, tinha um sorriso sincero, que de alguma forma encheu de esperança meu coração.
Quando cheguei em casa, passei pelo espelho e vi o olhar daquela senhora, vi seu sorriso levemente misturado ao meu.
Seria loucura talvez pensar, insanidade, lucidez fora do lugar, mas de certa forma me ocorreu, que aquela senhora fosse mesmo eu.

Irene Tiraboschi
(direitos reservados)

O Sentido

O que dizer quando se surpreende?
O que fazer quando se apaixona?
Como explicar o que não se compreende?
E assim começa meu tormento

O que fazer quando se apaixona?
Guardar o sorriso, disfarçar o olhar
Não se entregar e não se perder no envolvimento
Não se constranger por não saber o que falar

O que fazer quando se apaixona?
Como lidar com o inesperado?
Escrever, mil vezes, a mesma frase sem sentido
Dizer, novamente, o que já tinha dito
Ficar crédula em meio ao mundo encantado

O que fazer com o que sente?
Como se alguém seqüestrasse a gente
O pensamento deixa de ser seu

Você não pára de pensar na pessoa
Até mesmo uma guerra vira problema à toa
E, sonhando, o dia amanheceu

O que fazer quando se apaixona?
Fingir que não viu a borboleta entrando pela janela
Fingir que não está surpreso com aquele abraço
Que não se encantou com a cor dela

O que fazer quando se apaixona?
Não foi nada programado
De repente tudo mudou o sentido
E o sentido estava ao meu lado

E a situação foi tão inesperada
Que queria ter feito mais naquele momento
Queria que alguém lesse meu pensamento
E percebesse o quanto estou apaixonada
Irene Tiraboschi
© direitos reservados