julho 25, 2024

Carta Aberta do Coração


Me deixei aos cuidados de uma pessoa que cresceu sem amor, sem cuidados , criou-se por conta e amparado em princípios tortos, mas que sempre lhe pareceram certos.

Uma criança que não conhece a vida, nem o amor real, puro e verdadeiro, mas que eu, num momento de fragilidade e entrega , eu não a vi,  e me dei por inteiro à uma pessoa egoísta que não sabe o que fazer com a própria vida;  O que poderia ter feito a minha?

Juntando os pedaços e moldando a melhor versão de mim mesmo, não serei igual, vez que sempre que algo quebra, alguma coisa muda na forma, alguma peça fica com a marca da queda, mas o que importa é que ainda estou apto para a vida, eu não deixei quebrar minha essência,  eu só havia me esquecido do quão incrível eu sou e quão querido

Levo a lição de que cabelos grisalhos não são sinônimo de experiência e uma voz suave não pode lhe servir de conforto ou lhe dar segurança para apenas ouvir, sem analisar o que a pessoa está dizendo ou fazendo, pois pode estar aos cuidados de uma criança insensata, mas não por ser uma pessoa ruim, mas por não ser ainda uma pessoa crescida, não ter a maturidade necessária para cuidar de si mesma.

De fato, não havia outro destino que não fosse a queda para mim, uma porcelana, tão nobre, nas mãos de uma criança frágil, que precisa de cuidados, ser direcionada, alguém que lhe indique o caminho.

Eu sigo daqui, com tudo meu o mais próximo do lugar possível, ainda tem peças que parecem soltas, mas foram coladas com amor próprio, então ali permanecerão ... talvez, eu não esteja mais tão bonito,mas existe a restauração e sendo eu o próprio mestre artesão, não devo ter essa preocupação.

Com amor, Coração

 

 

Por Irene Tiraboschi 

(sobrevivente, 2024, direitos reservados)

                                   



junho 19, 2024

Mais uma vez....




Estou voltando pra casa e essa casa é aquela dentro de mim mesma.

Mais uma vez , como em todos os outros anos!!!

Eu sendo casa, me transformei numa simples almofada , que poderia ser moldada e fui me moldando pra ser parte da decoração da casa de outra pessoa.

Mais uma vez, como em todos os outros anos!!!

Eu me perdi pelo caminho, nos planos , desgastei a minha energia, atrasei meu trabalho e dei novo rumo ao meu destino sem que este  fosse o meu destino, me causando dano.

Mais uma vez, como em todos os outros anos!!!

Não foi fácil sair daquele lugar ... 

Eu me pego querendo voltar.

E nesse momento , me faço um carrinho de chá, que pode ser arrastado, empurrado e montado por quem o conduzir. 

Não sou eu , não posso ir .

Assim, estou em reconstrução, recuperando meu eu, meu tempo e meu traumático coração.

Mais uma vez, como em todos os outros anos!!!

 

por Irene Tiraboschi

(direitos reservados) 

junho 17, 2024

Borboleta na Janela

 

A lagarta se transformou em borboleta

encanta todos que a olham de tão linda e bela

Ela alegra sua fria e sombria janela


Mas antes fora apenas uma lagarta

Esquisita, asquerosa, feia, indesejada

 

Hoje é a mais bela das borboletas

Cheia de cor, cheia de vida

cheia de riso, cheia de amor

contudo, ela nunca foi uma flor

 

Irene Tiraboschi

( escrito em maio de 2024, direitos reservados)

A casa

 

A casa está desarrumada

Me vejo sem respirar

Não sei o que pensar

O medo paira no ar

Não reconheço mais quem somos

Louças caídas ao chão

Talvez tenha sido o vento

As paredes tortas, não há janela

Talvez tenha sido ela

A casa está trancada

O escuro não mostra nada

Como em um conto de fada

O medo surge ensurdecedor

Foi o amor?

Não havia como saber

A casa era o desconhecido

Muitas estórias para ouvir

Muito para entender

A casa era todo um ser

Refletia a confusão

Parecia um coração

Que mesmo que batia, não funcionava

Como seria possível crer que alguém ali morava?


 

Irene Tiraboschi

(escrito em maio, 2024, direitos reservados)