Era uma vez uma Oncinha muito fofa, tudo bem que fofa e oncinha são palavras que não combinam, mas essa era especial. Ela era meiga. Vivia com medo de acertar as pessoas, embora, ás vezes fizesse isso por conta da própria espécie, vivia pensativa tentando mudar sua vidinha, estudando pra poder ter um lugar melhor na floresta.
Ela acreditava que um dia encontraria um amor, mas ninguém olhava essa oncinha como deveria, todos a viam como uma amiga, aquela que protegia os bichinhos menores, que representava a comunidade florestal nas reuniões com os Leões , governantes do lugar e ajudava todos por ser bastante esperta.
Um dia, a Onça conheceu o Dr. Caranguejo, ela o achou estranho num primeiro momento e depois passou a gostar das coisas que ele dizia. Se tornaram amigos e conversavam todos os dias.Ele tinha interesse por ela e vivia falando de namorar, a Onça pensava “ este cara é maluco, a gente é nada parecido, isso não vai dar certo!”, mas o tempo foi passando e o Dr. Caranguejo,dono de uma oratória invejável, convenceu nossa amiga de que ele era um amor de pessoa e que os dois seriam muito felizes juntos.Começaram a namorar.
Ela nunca escondeu dele que era uma onça, que embora parecesse pacata, era brava, chata, e questionava tudo que estivesse fora do certo, talvez por isso ela escolheu fazer Direito na Universidade dos Ventos, que ficava no interior da Floresta.
No começo estava tudo lindo, eles pareciam felizes, se davam super bem, mesmo que, pra muitos na floresta, fosse um relacionamento inviável. Eles estavam sempre ligados um ao outro, tinham uma sintonia perfeita, pelo menos era o que diziam.
O relacionamento estava completando três meses, se falavam todos os dias, se viam pouco porque moravam distantes e tinha hábitos diferentes, mas ainda sim, faziam de tudo pra dar certo, sempre se declaravam um ao outro e sempre afirmavam ser pra sempre, até que um dia, algo se quebrou.
O Dr. Caranguejo estava muito estranho, foi visitar a Oncinha e já chegou falando que ia embora, ele falava umas coisas meio sem razão de ser e isso estava magoando, mas ele sorria e dizia que estava brincando... Nossa amiga, não estava gostando nada dessas frases e muito menos das brincadeiras, começou a desconfiar que tivesse algo errado, dito e feito, ela estava certa, ele foi ficando mais estranho e simplesmente saiu, se enterrando em algum canto que ela nem percebeu onde.
Ela ficou dias esperando noticias dele, chegou a pensar que ele tivesse sido pego por algum predador, até que a Coruja, muito observadora, avisou que ele estava bem e que nada de errado acontecera com ele.
Ela ficou perdida, não sabia que pensar, ela estava confusa demais pra entender o porquê de tudo aquilo. Ele a ignorou totalmente, todos diziam pra nossa amiga parar de sofrer e estudar, cuidar da vida dela, mas ela não tinha forças.
As Lêmures, admiradoras da força e dinamismo da onça em resolver conflitos,dos textos que a onça escrevia,fizeram uma cartinha, falando o tanto que era ela querida e que ela estava fazendo muita falta na Universidade da Floresta, então ela voltou, fraquinha, ainda confusa e perdida, ainda tentando entender o que havia virado sua vida pelo avesso.
Tentando levar uma vida normal, apesar de tudo, pesquisando em meio a colina, ela viu o Dr. Caranguejo, ele era membro de uma comunidade que ela visitara. Quando ela o viu, olhou de novo para ter certeza, e ao ter certeza, ficou chocada, ele estava vivendo uma vida como se ela jamais tivesse existido, e, pra quem, como ele, defendia a idéia de não se expor, não deixar público sua vida pessoal, ele estava bem na mídia. Ela percebeu que todos estavam com a razão, que o sumiço dele era pra ela entender que nada tinha sido importante pra ele e que ele jamais voltaria, e por mais que ela hesitasse acreditar nisso, ela não via outra realidade. Embora o amasse muito, ela percebeu que não era tão importante na vida dele como acreditou ser e adoeceu novamente.
Numa manhã dessas, ela escreveu pra ele, mandou recado pelo pombo-correio, dizia na carta que o amava muito e se desculpou por ser tão feroz e por não controlar seus impulsos característicos da sua espécie, embora ela não saiba ao certo o que aconteceu, ela assumiu a culpa de tudo, tentando, de alguma forma, traze-lo de volta.
Ás vezes acho que ela não tem culpa nenhuma, tudo que ela disse e fez foi por indução, uma atitude errada a levou questionar e reagir.Outras vezes, penso que nossa amiga Oncinha ainda tem esperanças de que ele não tenha mentido, fingido todo aquele sentimento, sonhos etc., mas ela não nos escuta, ela faz tudo que lhe vem na mente.Tenta nos enganar, dizendo que está bem, está estudando novamente, recuperando-se em todos os sentidos, mas lá no fundo, sabemos que ela o espera, espera notícias porque ela acha um absurdo ele ter ignorado até a amizade. Ela parou de procurá-lo porque ela achou que tinha passado dos limites, então decidiu esperar sem incomodá-lo e sem falar nada pra ninguém, pra que ninguém a diga o que fazer ou a critique por acreditar ainda no amor que ela sente e na felicidade que sentiu estando ao lado dele.
As leoas acham que ela deveria recomeçar sua vida, esquecer essa pessoa que a ignorou e a fez chorar tanto, isso ela tem de decidir sozinha, nós não podemos interferir, mas sinceramente, queria que ela voltasse a sorrir, seja com quem for e como for... Eu queria que ela visse que não tem porque chorar,ver que, errando ou não, o que viveu foi fábula demais.
Irene Tiraboschi
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