maio 26, 2007

Os Vidros



Um grito
palavras amargas
vidros caídos no chão...
um rosto com lagrimas rosadas
um corte profundo no coração
o que houve ninguém sabe
e talvez nunca irão saber
só mesmo a imagem das luzes
sirenes durante a madrugada fria
só mesmo a curiosidade humana
história mal contada deste fatídico dia

Irene Tiraboschi
(direitos reservados)

maio 18, 2007

A Janela

Eu fico horas olhando o vidro da janela, esperando momento de sair daqui.
Quero encontrar o jardim que está lá fora, mas a chuva insistente me obriga a permanecer assim .
Creio estar sentenciada a esperar a chuva passar e alguém abrir a janela .
Pior é a aranha, ela não se cansa de tentar me machucar, fica ali de tocaia no canto da janela sempre esperando um descuido meu pra lançar sua teia maléfica.
Ela não se importa com nada, só quer destruir meu sorriso e o brilho de minhas asas,ela nem percebe o mundo a sua volta, sua agilidade, sua importância no ecossistema.
Não sei mais o que fazer,sei que logo eu estarei livre dela, porque uma aranha e uma borboleta não podem ocupar o mesmo lugar.
Meu lugar não é aqui.
Eu sou borboleta não combino com um canto de janela qualquer.
Meu mundo é um jardim cheio de flores e fadas, cheio de anjos, cheio de vida.
A janela fechada é somente a passagem a ser usada , mas que não quer se abrir.
E enquanto isso a aranha fica ali, no canto da janela esperando o momento certo pra que possa me pegar.
Quero que a chuva passe logo, com o dia ensolarado a janela irá se abrir, eu poderei bater minhas asinhas e voar pra longe da aranha , encontrar meu lugar, bem longe de tudo isso aqui!

Irene Tiraboschi
(direitos reservados)

maio 17, 2007

Uma Fábula




Era uma vez uma Oncinha muito fofa, tudo bem que fofa e oncinha são palavras que não combinam, mas essa era especial. Ela era meiga. Vivia com medo de acertar as pessoas, embora, ás vezes fizesse isso por conta da própria espécie, vivia pensativa tentando mudar sua vidinha, estudando pra poder ter um lugar melhor na floresta.
Ela acreditava que um dia encontraria um amor, mas ninguém olhava essa oncinha como deveria, todos a viam como uma amiga, aquela que protegia os bichinhos menores, que representava a comunidade florestal nas reuniões com os Leões , governantes do lugar e ajudava todos por ser bastante esperta.
Um dia, a Onça conheceu o Dr. Caranguejo, ela o achou estranho num primeiro momento e depois passou a gostar das coisas que ele dizia. Se tornaram amigos e conversavam todos os dias.Ele tinha interesse por ela e vivia falando de namorar, a Onça pensava “ este cara é maluco, a gente é nada parecido, isso não vai dar certo!”, mas o tempo foi passando e o Dr. Caranguejo,dono de uma oratória invejável, convenceu nossa amiga de que ele era um amor de pessoa e que os dois seriam muito felizes juntos.Começaram a namorar.
Ela nunca escondeu dele que era uma onça, que embora parecesse pacata, era brava, chata, e questionava tudo que estivesse fora do certo, talvez por isso ela escolheu fazer Direito na Universidade dos Ventos, que ficava no interior da Floresta.
No começo estava tudo lindo, eles pareciam felizes, se davam super bem, mesmo que, pra muitos na floresta, fosse um relacionamento inviável. Eles estavam sempre ligados um ao outro, tinham uma sintonia perfeita, pelo menos era o que diziam.
O relacionamento estava completando três meses, se falavam todos os dias, se viam pouco porque moravam distantes e tinha hábitos diferentes, mas ainda sim, faziam de tudo pra dar certo, sempre se declaravam um ao outro e sempre afirmavam ser pra sempre, até que um dia, algo se quebrou.
O Dr. Caranguejo estava muito estranho, foi visitar a Oncinha e já chegou falando que ia embora, ele falava umas coisas meio sem razão de ser e isso estava magoando, mas ele sorria e dizia que estava brincando... Nossa amiga, não estava gostando nada dessas frases e muito menos das brincadeiras, começou a desconfiar que tivesse algo errado, dito e feito, ela estava certa, ele foi ficando mais estranho e simplesmente saiu, se enterrando em algum canto que ela nem percebeu onde.
Ela ficou dias esperando noticias dele, chegou a pensar que ele tivesse sido pego por algum predador, até que a Coruja, muito observadora, avisou que ele estava bem e que nada de errado acontecera com ele.
Ela ficou perdida, não sabia que pensar, ela estava confusa demais pra entender o porquê de tudo aquilo. Ele a ignorou totalmente, todos diziam pra nossa amiga parar de sofrer e estudar, cuidar da vida dela, mas ela não tinha forças.
As Lêmures, admiradoras da força e dinamismo da onça em resolver conflitos,dos textos que a onça escrevia,fizeram uma cartinha, falando o tanto que era ela querida e que ela estava fazendo muita falta na Universidade da Floresta, então ela voltou, fraquinha, ainda confusa e perdida, ainda tentando entender o que havia virado sua vida pelo avesso.
Tentando levar uma vida normal, apesar de tudo, pesquisando em meio a colina, ela viu o Dr. Caranguejo, ele era membro de uma comunidade que ela visitara. Quando ela o viu, olhou de novo para ter certeza, e ao ter certeza, ficou chocada, ele estava vivendo uma vida como se ela jamais tivesse existido, e, pra quem, como ele, defendia a idéia de não se expor, não deixar público sua vida pessoal, ele estava bem na mídia. Ela percebeu que todos estavam com a razão, que o sumiço dele era pra ela entender que nada tinha sido importante pra ele e que ele jamais voltaria, e por mais que ela hesitasse acreditar nisso, ela não via outra realidade. Embora o amasse muito, ela percebeu que não era tão importante na vida dele como acreditou ser e adoeceu novamente.
Numa manhã dessas, ela escreveu pra ele, mandou recado pelo pombo-correio, dizia na carta que o amava muito e se desculpou por ser tão feroz e por não controlar seus impulsos característicos da sua espécie, embora ela não saiba ao certo o que aconteceu, ela assumiu a culpa de tudo, tentando, de alguma forma, traze-lo de volta.
Ás vezes acho que ela não tem culpa nenhuma, tudo que ela disse e fez foi por indução, uma atitude errada a levou questionar e reagir.Outras vezes, penso que nossa amiga Oncinha ainda tem esperanças de que ele não tenha mentido, fingido todo aquele sentimento, sonhos etc., mas ela não nos escuta, ela faz tudo que lhe vem na mente.Tenta nos enganar, dizendo que está bem, está estudando novamente, recuperando-se em todos os sentidos, mas lá no fundo, sabemos que ela o espera, espera notícias porque ela acha um absurdo ele ter ignorado até a amizade. Ela parou de procurá-lo porque ela achou que tinha passado dos limites, então decidiu esperar sem incomodá-lo e sem falar nada pra ninguém, pra que ninguém a diga o que fazer ou a critique por acreditar ainda no amor que ela sente e na felicidade que sentiu estando ao lado dele.
As leoas acham que ela deveria recomeçar sua vida, esquecer essa pessoa que a ignorou e a fez chorar tanto, isso ela tem de decidir sozinha, nós não podemos interferir, mas sinceramente, queria que ela voltasse a sorrir, seja com quem for e como for... Eu queria que ela visse que não tem porque chorar,ver que, errando ou não, o que viveu foi fábula demais.

Irene Tiraboschi
(direitos reservados)

maio 15, 2007

A banalizações do amor

Quem realmente sabe o que significa “eu te amo”?Hoje em dia “te amo” virou “bom dia”, uma forma de moeda que se usa pra conseguir o que quer... um troco que se dá pra compensar um feito ou até mesmo o sacrifício de alguém.“Te amo” virou “olá”, “oi” ou qualquer coisa cotidiana que se diz sem sequer sentir.Pior que a gente sempre cai... vibramos quando ouvimos e neste “ te amo” depositamos todos os nosso sonhos, toda nossa vontade de ser feliz, de amar e ser amado.Triste porque “te amo” depois e um beijo pode ser facilmente trocado por “ mais uma” ( no caso de se tratar de um Don Juan),ou por palhaça, ou ainda por qualquer palavra sem sentido no momento porque é exatamente assim que ta sendo dito o “eu te amo”.Mas isso justifica muita coisa, como os términos de namoro repentino onde sua amiga te liga chorando e diz “ele dizia que me amava”, agora ela precisa entender que cada “te amo” dele era só letras disponibilizadas na ordem certa, formando algo que pra gente se torna grandioso, mas que pra eles não...ela precisa entender que eles falam automaticamente porque isso é senha para que deixemos entrar em nossa vida e fazer parte dela... definitivamente precisamos de uma senha melhor.Um dia eles ouviram essas mesmas palavras, a pessoa dizia como se fosse nada, e eles sentiram a dor terrível que isso causa, aí seguem a regra (criada por eles!) se endurecem, deixam de ser sentimentais e saem por aí “ vingando”, como se todas as mulheres do mundo fossem a mesma, aquela que não deu valor, que esnobou, que não quis...fazem uma inocente chorar e se sentem campeões porque eles não choram mais.Enfim, depois de ler isso, algumas vão falar que tenho toda razão, outras que sou muito radical (elas ainda acreditam que “te amo” seja doce)... talvez você passe a interpretar melhor os “ te amo” que escuta ou se você costuma falar, espero que procure pensar duas, três vezes antes e não dizer se não tiver sentido, se não tiver sentimento...vamos dizer não à banalização do amor, vamos acabar com essa onda de amores mal resolvidos e mágoas gigantescas.

Irene Tiraboschi
(direitos reservados)