agosto 13, 2007

Felicidade

Tão interessante saber que felicidade se compra num potinho.
Pode se escolher os sabores, com ou sem cobertura, comer de colher ou na casquinha
Felicidade pode se comprar em caixinha ou em barras
Pode se escolher se quer com açúcar ou light pra se manter a forma
Pode ser branco, preto, recheado ou truffado.
Felicidade tem nomes bonitos com sotaque francês ou recheio de licores
Felicidade tem marca famosa e se o palito vier marcado, você troca e vai pra casa com uma alegria,você fica horas nas lojas especializadas.
São alegrias recheadas por poucas moedas.
Quando se está em casa, com as mãos geladas por carregar por alguns quarteirões a felicidade, você senta no sofá com um pirex tamanho família e uma colher e se delicia. Uma colherada de amor, outra de risos, uma de abraços na pessoa que sente falta, as duas seguidas tem sabor de beijo e você até vira a colher que é pra aproveitar bem... você pode repetir, comer da própria fonte.A felicidade é só sua.
Não é pecado isso? Passar uma tarde feliz por tão pouco?
Caixas de sonhos,especiais, clássicos, uns vem com papel colorido que lembra carta de amor,barras de confiança com recheio de otimismo,barras de segurança com pedaços inteiros de auto- estima.
Doce sabor da felicidade,uma caixa cheia de mensagens no celular, frases de eu te amo,ligações de uma hora a R$ 1.99.
Uma caixa cheia de declarações, de planos pra ser comentados depois da meia noite,uma mordida que te leva um momento sincero num lençol macio, outra que te leva a um beijo ardente num sofá vermelho.
Bombons de lembranças,colheres de saudades,depois,a caixa vazia, pote vazio,embalagens vazias.Acabou?
Sim, amanhã você terá apenas uns quilinhos a mais e um rosto empolado por conta de alergias, ficou feliz por uns minutos por conta de sensações falsas de alegria e ainda está com as lembranças, a saudade e a dura realidade: você está só.
Mas a vida tem disso,promessa perdida de um lado e de outro ainda sendo cumprida.
A vida tem seu lado prático que atrai o lado sensível e poético.
Quando o lado prático vai, o lado poético cai, chora, sofre, adoece e produz.
Fica esperando o lado prático voltar, fingindo se levantar e acreditando que vai melhorar.
Tenta se achar mais importante, mostrando que a dor é insignificante.
Tenta viver o que não pode esquecer porque não deixou de amar.
O que se pode fazer?
Talvez escrever, depois publicar.
Um outro pote de sorvete abrir e dizer que pode a felicidade comprar e esperar...
Pelo o que?
O lado poético não quer saber, pois tem medo que o lado prático não saiba como voltar.


Irene Tiraboschi
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