maio 17, 2011

Ser ou não ser , eis a depressão




O que fazer quando alguém decide por fim na própria vida?
O que dizer para essa pessoa para que ela mude sua opinião?
Que ela queira sorrir, queira crescer, queira evoluir?
Como devolver a ela a alegria e a vontade de ser feliz?
Quando sabemos de algum caso nesse sentido, ouvimos críticas, as pessoas falam que quem fez isso foi fraco ou não pensou na família. Mas, será que ela não tentou pensar?
Será que ela não buscou ajuda e, talvez, não tenha conseguido?
Se hoje você apresenta um quadro de depressão, basta ser atendido pelo SUS que para tudo se receita fluoxetina: dor no braço, dor de garganta, alergias.
Para tudo o médico olha e diz: _ “Eu vou te dar uma pomadinha e você toma esse remédio aqui todo dia à noite”
Mas será que ele viu mesmo que era depressão?Será que ele percebeu a gravidade do caso?Não.
Lá todos saem com a mesma receita, sempre algum tipo de psicotrópico. Quando sentada na saleta fria de espera, cheio de bancos frios, a gente conversa com um e com outro e todos tomam fluoxetina ou valeriana ou passiflora, que são mais lights, mas eu pergunto se todos ali, realmente precisam dessa medicação.
O mundo inteiro está com depressão?
Então, por que nos chocamos quando alguém comete suicídio? Ou quando alguém comete um crime bárbaro?É tudo depressão?
A sociedade é ótima para taxar as situações, mas pouco faz para mudar esse quadro.
Quando se sente uma dor insuportável que não tem local definido; quando ela não tem hora para começar ou parece não ter fim; quando você olha buscando cor e vê apenas cinza; quando você não sente a menor vontade de continuar, tomar banho, resolver problemas; deixa de ouvir seus amigos ou sua família; quando você acha que qualquer comentário é sobre você; se sente acuado, melancólico, sem esperança, fracassado, inútil e muito, muito feio; quando você acha que qualquer lugar fora do mundo é melhor que o mundo em que você vive; quando você tem vontade de se bater, de se causar alguma dor visível que seja maior que a que sente e não vê; quando começa a imaginar como seria a vida de todos sem você; estamos falando de depressão?
O pior que para saber, antes de morrer ou tentar se matar, tem que ter sorte.
A vaga no SUS é para daqui seis longos meses e até lá você toma fluoxetina, uma vez ao dia, todo dia à noite, consoante ordem médica, que apenas olha e diz: “tome isso aqui”. Sem exames, sem mais perguntas, sem humanidade.
“Arrume um hobbie, vá jogar na internet, veja filmes na TV ou pegue na videolocadora; aprenda corte e costura, faça teatro, volte a estudar, arrume um emprego.”
São coisas ótimas para se aconselhar ao depressivo, mas pergunta-se:
Será que ele tem dinheiro, tem emprego ou aptidão para consegui-lo?Há vaga para ele no mercado de trabalho?Pode manter uma internet ou pagar canais de TV?Pode fazer um curso do que quer que seja?
Um dia, uma pessoa depressiva precisava de algo para se alegrar e decidiu pedir comida japonesa, uma pizza grande, refrigerante e lanche. Após 40 minutos a felicidade estava na mesa: fartura e riqueza. Por algumas horas, o depressivo achou que pudesse até comemorar, celebrando a vida.
Outro dia, esse mesmo depressivo estava numa lanchonete e uma pessoa ligou pedindo alguns lanches e 02 litros de refrigerante, mas morava num bairro pobre, sem iluminação e com fama de violento e sabe o que essa pessoa ouviu?
“_ Desculpe, mas aí não vamos entregar.” E, depois de desligar o telefone, teceu comentários maldosos, como se todos desse bairro fosse criminosos ou favelados. Triste.
Se fosse uma pessoa depressiva, como aquela que pediu o banquete outro dia, se ela quisesse se alegrar ou alegrar sua família depois de tantas crises?Se a prefeitura esqueceu de dar boa estrutura, com energia e policiamento, no bairro, eles não tem direito a pedir um lanche?
São tantas coisas para pensar: ter sua própria casa, como pagar e ainda se irão te entregar uma pizza se tiver vontade.
Queria poder ter todas as respostas, mas não tenho e não sei também quem pode ajudar nesses casos.
Só sei que uma pessoa com esses sintomas que causam tantos sofrimentos não deveria esperar tanto tempo na fila do agendamento.

Irene Tiraboschi
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